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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Fé + Conhecimento = Orgulho?

Dia a dia vemos aumentar a dificuldade para a divulgação do evangelho e a maioria dos cristãos, por mais atenta que esteja, não faz idéia do que realmente se passa. A igreja parece que abriu as portas para o mundo confundindo o natural com pecado e, ao mesmo tempo, deixando passar camelos e mais camelos pelo fundo das agulhas. O que está acontecendo, afinal? Por que a igreja está tão distante de alcançar o objetivo de Cristo, qual seja o de fazer discípulos? A igreja não está respondendo às questões que o mundo lhe tem imposto, por quê? A Bíblia não tem respostas para essas questões? E os cristãos que a conhecem, por quê não têm respostas também?

Em primeiro lugar, a Bíblia não é um compêndio de ciências mas é o Manual da Realidade. Dela podemos extrair princípios que, quando investigados pela ciência, podem elucidar muitas coisas ainda desconhecidas. Dou alguns exemplos. O profeta Isaías diz que o Senhor se assenta sobre a redondeza da terra. Então, a terra tem formato arredondado, não chato nem quadrado. Noutro ponto está escrito que o Senhor estendeu os céus como a um pergaminho. Hoje os cientistas estudam a existência dos chamados buracos de minhoca no Universo. Isso significa que o Universo pode não ser plano e deve ter curvaturas. Assim, se alguém estivesse querendo ir de um lugar a outro encurtando distâncias, poderia pegar a chamada dobra do tempo, que é como se atravessasse por dentro de uma onda ao invés de passar por cima dela. Atravessar essa onda em vez de contorná-la, encurta a distância entre um ponto e outro. A idéia está na Bíblia: desenrolando o pergaminho formam-se ondas se não for devidamente esticado. Existem outros fatos que deveriam ser investigados, mas os homens preferem jogar esse conhecimento fora dizendo que a Bíblia é somente um livro religioso e que não tem valor científico algum. Como Deus mesmo diz, desprezam o conhecimento e preferem as fábulas.

Mas onde os cristãos estão errando também? Há algo que nós, como filhos do Deus Altíssimo, podemos fazer? Sim, há, mas nem todos querem fazer. Precisamos retornar à sanidade mental, ao conhecimento puro e simples que caminha muito bem ao lado das Escrituras.

Os cientistas alegam que a ciência desmente a Bíblia, mas sabem que é exatamente o contrário disso. Quando pesquisam algo começam por buscar evidências contra a Bíblia. Quando as pesquisas os traem e mostram que a Bíblia tem razão, tais pesquisas são impublicáveis, ninguém se arrisca a mostrar que a ciência errou para não ser considerado um religioso sem bom senso. Na verdade quem errou foi o cientista, o pesquisador, mas e os egos inflamados, onde ficam? Muitos cristãos têm egos enormes também, mas escondem tudo debaixo da ignorante explicação: O saber torna o homem soberbo. Torna mesmo?
Os que assumem a ignorância como uma meta cristã citam o texto de 1Co.8:1 -
ORA, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos conhecimento. A ciência incha, mas o amor edifica.
Mas há um detalhe que poucos percebem: Paulo está sendo irônico e é simples perceber isso pelo que ele diz em seguida:

2  E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber.
Ora, se há um tipo de saber que convém, esse saber não incha, não torna ninguém soberbo. O tipo de conhecimento que não incha é o conhecimento verdadeiro, natural, ainda que produzido por homens que investigaram a natureza e dela tiraram lições importantes. Esse tipo de ciência não torna ninguém soberbo por uma razão bem simples: é um tipo de conhecimento sobre o qual o homem não tem qualquer poder, faz parte da natureza criada, do todo criado por Deus. Nesse conhecimento inclui-se filosofia, história, biologia, física, astronomia, química, direito, música, literatura e tudo o mais que pode ser compreendido pelo homem.
Mas qual filosofia é a correta? Qual parte da história podemos compreender como não inventada? Como a biologia explica a criação e não a evolução? Muitas perguntas podem surgir e a resposta também é simples: a realidade não se altera pela vontade do homem. A ciência que a compreender e a retratar com fidelidade merece nossa atenção. É importante ressaltar que a Filosofia não é uma ciência em seu sentido estrito, pois o filósofo é aquele que investiga a realidade até encontrar seus princípios elementares. Como diz o filósofo Olavo de Carvalho, a filosofia é a unidade de conhecimento na unidade de consciência. Da Filosofia originam-se as demais ciências teóricas, e mesmo as práticas têm algo cuja fonte está no pensamento dos filósofos.

O apóstolo Paulo não está dizendo que por si mesmo o saber incha, mas diz que o falso saber torna o homem soberbo. É compreensível que o falso saber ensoberbeça o homem, pois ele terá que esforçar-se para dar credibilidade ao que sabe ser falso. A imponência do falso sábio busca humilhar os demais para que sua falsidade não seja descoberta. É uma espécie de medo oculto que força o vigarista a impor respeito pela expressão de uma autoridade que não tem.

A Igreja precisa voltar ao bom conhecimento se quiser levar a Verdade do Evangelho aos homens. Existem inúmeras questões pendentes que precisam da resposta correta, a qual somente Deus nos dá em Sua Palavra, mas não podemos simplesmente levar tais respostas aos homens dizendo "Na Bíblia está escrito que..."
A maioria das pessoas já está sendo doutrinada para ver a Bíblia apenas como um livro religioso, sem qualquer profundidade que ao menos indique uma direção para a pesquisa científica. Enganam-se os que pensam assim, mas são os fatos. As pessoas não ouvirão respostas que comecem citando a Bíblia como fonte segura de conhecimento. Podemos até citar trechos dela mas precisaremos saber como se encaixam corretamente na realidade, explicando-a, tornando claros os problemas ocultos e, então, trazendo a revelação divina ao entendimento daquele que ouve. Sem entendimento da realidade, sem capacidade de expressão, de linguagem correta, de sabedoria e compreensão do todo criado e suas relações comuns após a queda do homem torna-se praticamente impossível falar aos homens sobre a Salvação de Cristo. Tais palavras tornam-se sem sentido para os que buscam respostas objetivas. Além do quê, a compreensão das Escrituras só se dá perfeitamente depois que o homem arrepende-se, aceita a salvação e recebe o Espírito Santo, que é quem explica o que disse.

Precisamos observar como Paulo falou aos gregos quando pregou no Areópago. O texto está em Atos 17, vs. 18 em diante. Observe no vs.23 como Paulo encontra a oportunidade para falar do evangelho aos gregos. Observe também o vs.18 e veja as dificuldades que já existiam entre os que seguiam os filósofos epicureus e estóicos. Estes foram considerados como falsos filósofos pelos grandes pensadores da época e pelos seguintes, embora atualmente sejam considerados mestres por alguns que se julgam grandes pensadores. Quando entendemos que os adeptos dessas filosofias baratas ainda se mantém ativos no mundo, vemos que os desafios de Paulo eram os mesmos que todo cristão enfrenta atualmente. Sobre essas filosofias pretendo escrever algo breve logo mais, a fim de instruir um pouco os que por aqui passarem. Para os que quiserem se aprofundar no assunto, sugiro o livro de Olavo de Carvalho "O Jardim das Aflições", no qual se encontram não só parte da filosofia de Epicuro como também outros pensamentos que estão modificando o mundo atual.

Os cristãos precisam retornar ao bom estudo sem tentarem se apoiar na própria ignorância como um método divino de divulgação da humildade evangélica. Após o apóstolo Paulo ter dito que o saber ensoberbece, ele mesmo passa a ensinar os coríntios sobre a questão das coisas sacrificadas aos ídolos. Ora, se Paulo ensinava é porque ele sabia do quê estava falando. Além disso, se saber demais torna alguém soberbo, segundo essa idéia absurda, Deus seria a pessoa mais soberba que existe!

Jesus é o Logos divino que se fez carne e habitou entre nós. A palavra Logos vem da língua grega e significa conhecimento, verbo, palavra, inteligência, sabedoria. Se Jesus é a sabedoria de Deus, a inteligência de Deus que se fez carne e habitou entre nós, desprezar o conhecimento é também desprezá-Lo ao menos em parte.
Paulo diz que em Cristo estão escondidos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Assim, todo cristão deve começar por conhecer seu Salvador e suas palavras, e jamais desprezar o conhecimento humano que, por toda maneira, também veio de Deus.Como diziam os antigos, o saber não ocupa espaço.

Após investigar bem as Escrituras, o cristão começará a entender a diferença entre o falso saber e o conhecimento das verdades que conduzem o homem à compreensão das coisas criadas, e como melhor utilizá-las para si e para a glória do Criador. A Igreja precisa recuperar sua autoridade moral diante dos homens mas, sem conhecimento, entendimento e sabedoria, não conquistará nem mais um só ouvido atento para o que tem a dizer. Se a Igreja quiser recuperar sua credibilidade moral deve, primeiro, recuperar sua credibilidade intelectual para poder responder aos homens conforme as suas mais profundas ansiedades, da mesma forma como fez o apóstolo Paulo no Areópago.

Um comentário:

Nicolas C. Piocoppi disse...

Caro, este é o blog do Euclides de Oliveira Jr. que falou no programa do Olavo há tempos atrás? Espero que seja. Há algum tempo que o procuro para entrar em contato. Meu nome é Nicolas C Piocoppi, sou aluno do professor Olavo de Carvalho do curso de Filosofia. Tenho tido extrema decepção com relação aos padres e religiosos da Igreja - sou católico. Agradeço muito por ter compartilhado com todos nós aquelas mensagens de Deus. Gostaria de uma coisa, somente: Que pudesse orar por mim e por minha família - posto que já não tenho mais confiança nos padres e religiosos que me rodeiam. Por todo lugar todas as pregações têm sido pregações de grupos - mesmo quando são boas pregações, quero dizer, são pregações que buscam conformarem-se com a doutrina da Igreja. Por todo o lugar parece que somente encontro pessoas que olham para as coisas como se achassem que estão vivendo já no plano celeste e julgam as coisas com os olhos de eternnidade, mas com o corpo na temporalidade e prestes a ser julgado, ou os padres socialistas, marxistas e etc. É muito difícil encontrar alguém como o professor Olavo e o Pe. Paulo Ricardo que sabem que vivem aqui e agora e não em outro lugar e cuja esperança de paraíso e de salvação referem-se somente à vida que há de vir. Essas outras pregações, portanto, começam a soar imensamente falsas, de modo que quando parece que há alguém de carne e osso por aí e não um desses anjos que andam como se já tivessem sido salvos ou um demônio propriamente dito eu sinto que é necessário buscar o contato.

Pois bem, meus pais são protestantes e eu sou católico - converti-me depois de passar um tempo como ateu e encontrar a filosofia do Mário Ferreira dos Santos e do professor Olavo. Passo por um drama que, acredito, é o mesmo de muitos; não gostaria, de modo algum, de ver meus familiares e aqueles que são próximos aceitarem - como crianças aceitam doces de estranhos -, as doutrinas mais idiotas e, no fundo perversas, que abrasam as almas de nós, brasileiros. Sei bem que santo de casa não faz milagres - ainda mais eu, que não sou santo e, ainda, com o agravante de que, no Brasil, a vaidade e a inveja tornaram-se os pilares de toda a conduta humana. Mas amo muito meus familiares e oro para que estas mensagens cheguem até eles. Como bons protestantes, eles têm o hábito da leitura da bíblia, mas infelizmente existe aquele problema muito comum onde não há alta cultura: Não há dúvidas de que o mal é mal, posto que está na Bíblia e que o bem sempre vence o mal e etc. Mas quanta ingenuidade aparece quando pergunta-se assim; 'como é que o mal se manifesta?' 'onde ele está?' 'que fazer para evitá-lo se não sabemos onde ele está?' E aí as respostas, infelizmente, serão contaminadas por aquilo que as pessoas dizem ser o bem e o mal, de modo que tornam-se vazias as leituras e os estudos que se faz a respeito dos sinais dos tempos, dos Evangelhos e assim por diante. Do que adianta saber grandes e belas coisas sobre o destino de todas as coisas quando se ignora soberba e completamente aquilo que está diante dos nossos olhos? Enfim, é somente isto que peço, sr. Euclides: ore pela minha família e por mim; tanto para que eles encontrem a voz de Deus que diz claramente que isto é mal e aquilo é bom, que os conduza para a glória celestial - posto que não ouvirão nada que vier de mim. E também por mim, para que não caia na vaidade como muitos caem, que eu saiba como lidar com essa situação - não só da minha família, mas com relação ao caos social que se vive hoje. Deus disse ao sr., que nos repassou, que quem pedisse sabedoria nestes últimos tempos, seria dada. Pois é isto que peço.
Rezarei pelo sr. e que possa continuar a realizar este grande trabalho.
Desculpe tomar o seu tempo com essas coisas e agradeço muito a atenção. Grande abraço.